quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Matéria-homenagem em novembro de 2005


Sexta-feira, 18/11/05 - 19:06


Jornalista da Segurança Pública ganha prêmio literário

“Quando escrevo, repito o que já vivi antes.”
João Guimarães Rosa

Minas Gerais e infância sempre dão uma boa combinação. Foi lá que Rosa Maria da Costa, integrante do Setor de Imprensa da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, buscou inspiração para sua crônica “Vaca magra, só procura brejo pra afundar”. O que era para ser uma simples atividade complementar para a faculdade acabou se tornando segundo lugar no VI Concurso Literário Cleber Onias Guimarães, promovido pelo Conselho Comunitário de São Paulo.

“Fiz a inscrição no último dia, na esperança de ganhar os pontos necessários para o diploma”, conta. E foi meio sem querer também que a magia, as cores e sabores mineiros permaneceram com Rosa mesmo depois de ter se mudado com os pais para São Caetano aos 6 anos de idade, e logo após para Santo André, região de intensa movimentação política durante a ditadura militar. 

Ainda criança, sem consciência das coisas que aconteciam ao seu redor, já mostrava intimidade com as letras. Rosa participava das comemorações cívicas na escola declamando poemas de autores brasileiros, como Olavo Bilac. Durante as férias visitava a avó no casarão de janelas grandes em Bueno Brandão, cidade encravada nas serras do Sul de Minas Gerais. Lá, gostava de voar no balanço pendurado por seu pai num dos galhos do grande pé de laranja azeda, mas sua brincadeira predileta mesmo era cantar sob a sombra de sua copa.

O sonho de ser cantora impulsionou a vontade de estudar música, porém, não vingou. Estudou letras também, mas teve de parar por conta de um acidente. Cresceu assim, como a vaca magra de sua crônica, curiosa, sempre disposta a experimentar, a aprender com tudo que a vida nos oferece. Já com duas filhas, Mariana e Brisa, hoje com 18 e 14 anos, respectivamente, queria voltar a estudar, só não sabia o quê. 

Encontrou sua resposta no Jornalismo. Em 2003 entrou na Secretaria de Segurança Pública para fazer rádio-escuta, voltou no ano seguinte para o Núcleo de Jornais e Revistas, fazendo atendimento à imprensa. Sobre o talento, diz que não basta apenas ter inspiração, é preciso sentar e escrever. 

“É bom também ter uma motivação”, diz. Isso não deve faltar para Rosa agora. Depois de ficar em segundo lugar dentre mais de 300 trabalhos do concurso literário, ela mostra mais dez poemas, um conto e uma crônica, na exposição intitulada por ela mesma de Poesia e sabor na Faculdade São Marcos. “Por que sabor? Ah, porque a vida é repleta de sabores”, explica. Leia, a seguir, o poema de Rosa Maria da Costa.

Peter Füssy

Vaca magra, só procura brejo pra afundar

por Rosa Maria da Costa

Quando eu era criança, já quase adolescente metida à besta, minha mãe me olhava e dizia. 
– Você parece vaca magra, só procura brejo pra afundar...
Ela me comparava às vaquinhas que ela via, lá na região montanhosa do sul de Minas, onde crescera. 
Na verdade, as vacas não procuravam brejo para se afundar. Tinham sede e procuravam água para beber. Para isso, precisavam chegar bem perto dos pequenos riachos e estes eram rodeados de brejo. As pobrezinhas, como eram magrinhas, atolavam na lama e, às vezes, não conseguiam sair sozinhas. Ficavam berrando até que aparecesse alguém para ajudá-las a sair do atoleiro.
Eu nunca fui vaca, mas sempre fui magra, e muito, muito curiosa. Por que fazer uma coisa só, se eu posso fazer várias, e ao mesmo tempo?!
Pois é, minha mãe não conseguia entender minha curiosidade diante da vida. 
As vaquinhas procuravam água para matar a sede. Eu sempre procurei algo que matasse minha insaciável sede de querer aprender e ver muito mais do que me era apresentado, do que meus olhos azuis podiam e podem ver.
Acho que a juventude eterna é assim: procurar sempre o arco-íris mais bonito, a água que mata a sede, em todos os cantos e lugares. O encanto move o espírito e o corpo acompanha. A busca do mundo, de si mesmo dentro dele. Da filosofia empírica do conhecimento natural das coisas, até os ensinamentos presentes nos livros.
E busca-se música, bebe-se poesia, literatura e espiritualidade.
Crescer não é fazer o que todos já fizeram. É também fazer, tudo isso, de um modo diferente: ao contrário, de cabeça para baixo, de trás para frente. Reinventar o velho. Recriar o novo. Novas cores, outros sabores. Porque vim para descobrir. Viemos.
Nada mais entediante do que a rotina. Pode até se confortante por algum tempo, mas depois fica insuportável.
Buscar água em outros rios. Outras vidas em outros lugares. Ah, isso sim é bom.
Assim era a vaquinha magrinha lá de Minas. Tinha sede, queria beber água. Para isso, tinha que pagar o preço e correr o risco de ficar atolada no barro. Mas era só berrar um pouquinho, paciência, um jeitinho e tudo se resolvia.
Outros pastos para pisar e outras águas para beber.
Viva a vida!
Múuuuu!



http://www.ssp.sp.gov.br/noticia/lenoticia.aspx?id=13435#1


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